sábado, agosto 29, 2009

AMIANTO,EMBORA PROIBIDO,AINDA MATA

Pesquisa detecta ‘pulmão de pedra’ em 1/3 de 52 trabalhadores com amianto
Levantamento, ainda inédito, é da Escola Nacional de Saúde Pública.
Empresas dizem que resultado não reflete melhorias a partir dos anos 80.

Emilio Sant’Anna
Do G1, em São Paulo

Abrea preserva a memória de vítimas do amianto. Entre recortes de jornal presos na parede estão as fotos de colegas mortos. Doracy Maggion, de 72 anos de idade, diz já ter perdido a conta. A maioria, assim como ele, foi vítima do “pulmão de pedra”. A asbestose (nome técnico da doença) é causada pela exposição prolongada ao amianto – mineral utilizado na fabricação de telhas e caixas d’água. Progressiva, ela provoca a perda da capacidade respiratória. Uma pesquisa inédita da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) avaliou um grupo de ex-trabalhadores de indústrias do setor e descobriu que 32% sofrem de asbestose.



As empresas do setor dizem que o estudo não reflete a melhoria nas condições de trabalho adotadas a partir da década de 80.



Foram analisadas 78 pessoas, 52 expostas diretamente à fibra mineral, com período médio de 11 anos de trabalho. Além da asbestose, 79,8% dos examinados apresentaram alterações de função pulmonar e broncodilatação. “A inalação das fibras provoca uma reação inflamatória”, explica Isabele Campos Costa, farmacêutica e autora do estudo. “A inflamação é contínua, vai piorando com o tempo e depois de mais ou menos dez anos surge a asbestose.”



A pesquisa aponta também os efeitos tóxicos da substância no material genético das células. Em contato com os pulmões, a fibra gera a formação de espécies reativas de oxigênio que causam danos ao DNA. Um dos resultados é o câncer. Infográfico do G1, abaixo, explica em detalhes como o amianto age no organismo.



Esse é o temor de Maggion. Foram 19 anos trabalhando em contato direto com a fibra na antiga fábrica da Eternit em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, até se aposentar em 1986. “Dentro da fábrica, o pó do amianto estava em todos os lugares”, diz o aposentado. “Do lado de fora, o chão era revestido com cascalho e retalhos da fibra, as pessoas pisavam ali e levavam a poeira para suas casas.”



Em suas mãos um laudo médico traz o resultado: asbestose com origem ocupacional. Os exames realizados no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, e atestados pela Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho, alertam: “risco de apresentar neoplasia de pleura e pulmão”. Neoplasia é o termo médico para câncer.

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