quarta-feira, setembro 01, 2010

Em seis meses houve tantos acidentes na maior mina do país como em 2009 (EM PORTUGAL)


 

por Cláudia Garcia, Publicado em 26 de Agosto de 2010   
Em dez anos, foi a primeira vez que o número aumentou. Segurança no trabalho não é prioridade em tempos de crise
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    Existem cerca de dois mil mineiros em Portugal. Neves Corvo emprega 900
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
      Desde o início do ano, a maior mina do país, e uma das maiores da Europa na extracção de cobre, foi o cenário de 21 acidentes envolvendo mineiros. O número registado na mina de Neves Corvo entre Janeiro e Julho é praticamente igual ao número total do ano anterior, 20. Os dados são do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM) e revelam ainda que este foi o período com mais acidentes dos últimos anos. A tendência, desde 2000, era a diminuição.

      "O número é desastroso. A empresa tem de investir mais na segurança. Tem havido uma redução de custos com a segurança no trabalho", avança Jacinto Anacleto, trabalhador da Somincor, proprietária da Neves Corvo há 20 anos, e coordenador do STIM. A convicção é partilhada por Fernando Gomes da Comissão Executiva da CGTP, responsável pela área da Segurança e Saúde no Trabalho: "As empresas querem diminuir nos custos. E o sector da higiene e segurança é o primeiro a sofrer com os cortes."

      A pouca higiene no interior das minas é um dos problemas identificado pelos trabalhadores como causa de acidentes. "Há poucas condições de higiene. Muitas vezes andamos enterrados em água quase até ao joelho e essa água não é escoada", conta Anacleto. Alguns mineiros contactados pelo i explicaram que os acidentes por derrapagem, que resultam em fracturas e entorses, são um cenário muito comum. "Bombas para absorção de água" seriam suficientes para resolver o problema, dizem.

      "A consequência da falta de prevenção é o aumento de acidentes", garante Fernando Gomes. Segundo o dirigente, muitas empresas não "fazem o levantamento de riscos do trabalhador, que é obrigatório por lei". Fernando Gomes aponta também para o défice de técnicos superiores de segurança e saúde no trabalho nas empresas. A lei para promoção da segurança e saúde no trabalho de 2009 responsabiliza, no artigo 73º, o empregador para a organização deste serviço. A sua violação "constitui uma contra-ordenação muito grave", segundo a legislação. Gomes assegura que muitas empresas não dispõem deste serviço.

      O i contactou a Somincor, durante o dia de ontem, para obter informações sobre o serviço de segurança e saúde, sem sucesso. Anacleto garante que a Somincor emprega pelo menos três técnicos superiores, mas acusa as empresas da indústria mineira de falta de investimento em condições e formação. "É um trabalho com elevado risco e sempre que reivindicamos alguma melhoria, a resposta é igual: estamos a fazer tudo para melhorar as condições... Mas isso não está acontecer", acrescenta.

      Em Julho, uma máquina embateu contra uma viatura em trânsito no interior da mina de Neves Corvo. O acidente provocou o encarceramento de um mineiro por cinco horas. "As causas estão ainda por apurar." Segundo Anacleto, as formações dos trabalhadores são "deficientes". O sindicalista sublinha a obrigatoriedade do investimento em formações, sustentado pelo artigo 20º da lei. "Estas máquinas são muito difíceis de operar, são enormes e muito pesadas. Transportam quase 20 toneladas dentro do balde", explica.

      Alguns mineiros da Neves Corvo acusam a inspecção do trabalho de inércia total: "Nós pedimos dez acções inspectivas e eles fazem uma." O i questionou a Autoridade para as Condições do Trabalho, responsável pela inspecção, mas não obteve qualquer resposta. Já a Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), entidade tutelada pelo Ministério da Economia, para a "coordenação dos trabalhos mineiros" informa que não tem conhecimento do número de acidentes, porque "há vários anos que os números deixaram de ser trabalhados". Contudo, os dados do Sindicato, revelam ainda, que nas minas de Aljustrel, com cerca de 300 mineiros, ocorreram 39 acidentes, só este ano. Não foi possível obter informações sobre o número de acidentes na mina da Panasqueira, onde em Junho aconteceu o último acidente mortal. A mina da Covilhã com 350 trabalhadores e a de Loulé, com cerca de 40 estão "praticamente paradas" para férias.

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