segunda-feira, janeiro 25, 2010

PRIMEIROS SOCORROS: AFOGAMENTO

Primeiros Socorros

Passo-a-passo de socorro a vítima de afogamento


Bianca Piragibe


1) Chame rapidamente o socorro médico. Lembre-se: no caso de afogamento, cada minuto perdido diminui muito a chance de recuperação.
2) Enquanto a ajuda não chega, coloque a vítima deitada de costas (barriga para cima), em um declive, com a cabeça mais baixa que o corpo.
Cuidado: não dobre nem vire o pescoço do afogado.

3) Não tente retirar a água dos pulmões.

4) Descubra se a pessoa está respirando: ouça sua respiração e observe se o tórax se movimenta.

5) Se a vítima não for capaz de respirar, comece, urgentemente, a respiração boca-a-boca. Aprenda a fazer respiração boca-a-boca

6) Verifique também os batimentos cardíacos. Para sentir a pulsação, coloque as pontas dos dedos indicador e médio na virilha ou no pescoço da vítima, ao lado da traquéia.

7) Se a pulsação estiver ausente ou a pupila dilatada, o coração deve ter parado. É preciso fazer então uma massagem cardíaca.

8) Intercale duas respirações para cada 15 massagens cardíacas. P> 9) Insista na ressuscitação pelo máximo de tempo que você for capaz de agüentar. A vítima pode se recuperar mesmo após muito tempo nessa situação.

10) Quando a pessoa recuperar respiração e batimentos, deixe-a deitada de lado, com um braço abaixo da cabeça. Não permita que ela saia do repouso antes da chegada do socorro médico.

11) Aqueça a vítima. Se possível, leve o afogado para um local quente. Retire sua roupa molhada e cubra-a com cobertores, toalhas ou o que estiver à mão. Se a pessoa estiver consciente, ofereça uma bebida morna, doce e não alcoólica. Não tente aquecê-la rapidamente com um banho de água quente para evitar choque térmico. Friccionar braços e pernas pode ajudar a estimular a circulação.

O Dr. Marcelo Calil Burihan atende nos hospitais Santa Marcelina e Santa Marina, leciona na Faculdade de Medicina de Santo Amaro e deu consultoria para esta reportagem.


Redação Terra







Primeiros Socorros é o tratamento imediato e provisório ministrado a uma vítima de trauma ou doença.

Geralmente se presta no próprio local e dura até colocar o paciente sob cuidados médicos.

É da maior importância que o socorrista conheça e saiba colocar em prática o suporte básico da vida. Saber fazer o certo na hora certa pode significar a diferença entre a vida e a morte para um acidentado. Além disso, os conhecimentos na área podem minimizar os resultados decorrentes de uma lesão, reduzir o sofrimento da vítima e colocá-la nas melhores condições para receber o tratamento definitivo.

O domínio das técnicas do suporte básico da vida permitirá que o socorrista identifique o que há de errado com a vítima; levante ou movimente-a, quando isso for necessário, sem causar lesões secundárias; e, finalmente, transporte-a e transmita informações sobre seu estado ao médico que se responsabilizará pela sequência de seu tratamento.



AVALIAÇÃO INICIAL

Antes de qualquer outra atividade no atendimento às vítimas, deve-se obedecer a uma sequência padronizada de procedimentos que permitirá determinar qual o principal problema associado com a lesão ou doença e quais serão as medidas a serem tomadas para corrigi-lo.

Essa sequência padronizada de procedimentos é conhecida como exame do paciente. Durante o exame, a vítima deve ser atenta e sumariamente examinada para que, com base nas lesões sofridas e nos seus sinais vitais, as prioridades do atendimento sejam estabelecidas. O exame do paciente leva em conta aspectos subjetivos, tais como:

O local da ocorrência. É seguro? Será necessário movimentar a vítima? Há mais de uma vítima? Pode-se dar conta de todas as vítimas?
A vítima. Está consciente? Tenta falar alguma coisa ou aponta para qualquer parte do corpo dela?
As testemunhas. Elas estão tentando dar alguma informação? O socorrista deve ouvir o que dizem a respeito dos momentos que antecederam o acidente.
Mecanismos da lesão. Há algum objeto caído próximo da vítima, como escada, moto, bicicleta, andaime, etc.? A vítima pode ter sido ferida pelo volante do veiculo?
Deformidades e lesões. A vítima está caída em posição estranha? Ela está queimada? Há sinais de esmagamento de algum membro?
Sinais. Há sangue nas vestes ou ao redor da vítima? Ela vomitou? Ela está tendo convulsões?
(fonte: Manual de Fundamentos de Bombeiros / Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo)



AFOGAMENTO

Todo ser vivo é constituído de células ou por grupamentos de células, que se diferenciam, entre sí, para formar diversos tecidos e esses tecidos sofrem adaptações para formar os órgãos.

Para a manutenção da célula e também para garantir uma vida saudável, é necessário que o indivíduo apresente uma boa função cardiorrespiratória, a fim de que a célula seja abastecida com oxigênio, e também para que dela seja retirado o gás carbônico.

Sistema Respiratório

É através da respiração que o organismo obtém o O2 e elimina o CO2, sendo que tal troca gasosa é realizada pelos órgãos e estruturas do aparelho respiratório, que é constituído por:

fossas nasais
faringe
laringe
traquéia
pulmões (brônquios, bronquíolos e alvéolos)
Na respiração o ar entra pelas vias aéreas e vai até os alvéolos pulmonares, que são completamente envolvidos por finos vasos sanguíneos, denominados capilares. É entre os capilares e os alvéolos que ocorre a troca gasosa, onde o O2 passa para o sangue (hematose), e o CO2 sai do sangue e vai para os alvéolos. Uma vez no sangue, o O2 junta-se a uma proteína chamada HEMOGLOBINA e é transportado, pela circulação, até o coração, e depois para todas as células do corpo.
Uma vez dentro da célula, o O2 é captado pelas mitocôndrias, que irão utilizá-lo na produção de energia. Como resultado dessa produção temos o CO2 que é expelido da célula, cai na corrente sanguínea, é captado pela hemoglobina, vai até o coração e, de lá, chega novamente aos pulmões, e é jogado para fora do corpo através da expiração, e então novamente inicia-se o ciclo.

Os movimentos de inspiração e expiração ocorrem graças aos movimentos dos músculos entre as costelas (intercostais) e ao diafragma, que separa o tórax do abdome.

Afogamento

Entende-se por afogamento a asfixia em meio líquido.

A asfixia pode dar-se pela aspiração de água, causando um encharcamento dos alvéolos pulmonares, ou pelo espasmo da glote, que pode vir a fechar-se violentamente obstruindo a passagem do ar pelas vias aéreas.

No caso de asfixia com aspiração de água, ocorre a paralisação da troca gasosa, devido o líquido postar-se nos alvéolos, não deixando assim que o O2 passe para a corrente sanguínea, e impedindo, também, que o CO2 saia do organismo. A partir daí as células que produziam energia com a presença de O2 (aerobicamente), passarão a produzir energia sem a presença dele (anaerobicamente) causando várias complicações no corpo, como por exemplo, a produção de ácido lático, que vai se acumulando no organismo proporcionalmente ao tempo e ao grau de hipóxia (diminuição da taxa de O2).

Associado à hipóxia, o acúmulo de ácido lático e CO2 causam vários distúrbios no organismo, principalmente no cérebro e coração, que não resistem sem a presença do O2. Soma-se também à esses fatores a descarga adrenérgica, ou seja, a liberação de adrenalina na corrente sanguínea, devido à baixa de O2, o estresse causado pelo acidente e também pelo esforço físico e pela luta pela vida, causando um sensível aumento da frequência cardíaca, podendo gerar arritmias cardíacas (batimentos cardíacos anormais), que podem levar à parada do coração. A adrenalina provoca ainda uma constrição dos vasos sanguíneos da pele que torna-se fria podendo ficar azulada. Tal coloração é chamada de cianose.

A água aspirada e deglutida provoca uma pequena alteração no sangue, tais como: aumento ou diminuição na taxa de sódio e de potássio, além do aumento ou diminuição do volume de sangue (hiper ou hipovolemia) - dependendo do tipo de água (doce ou salgada) em que ocorreu o acidente - e destruição das hemáceas. Com o início da produção de energia pelo processo anaeróbico, o cérebro e o coração não resistem muito tempo, pois bastam poucos minutos sem oxigênio (anóxia), para que ocorra a morte desses órgãos.

Levando-se em consideração que a água do mar possui uma concentração de 0,3% de NaCl (cloreto de sódio), e que o plasma sanguíneo possui uma concentração de apenas 0,9% de NaCl, caso seja aspirada água do mar, ela por ser mais densa que o sangue, promove uma "infiltração", por osmose, do plasma no pulmão, tornando ainda mais difícil a troca gasosa.

Caso o afogamento ocorra em água doce, que possui concentração de 0% de NaCl, ocorre exatamente o contrário, devido o plasma ser mais denso que a água doce, fazendo com que a água passe para a corrente sanguínea causando uma hemodiluição e hipervolemia. Além desses fatores, a vítima de afogamento, tanto em água doce com salgada, geralmente desenvolverá um quadro de inflamação pulmonar, podendo evoluir para um quadro de pneumonia (infecção pulmonar), devido a água aspirada e também pelas impurezas e microorganismos nela encontrados.

Em caso de anóxia, as células do coração podem resistir de cinco minutos até uma hora, mas os neurônios, que são as células cerebrais, não resistem mais de três a cinco minutos.

Fases do afogamento

O processo de afogamento envolve três estágios distintos, que podem ser interrompidos através da intervenção em sua ocorrência, são eles:

angústia
pânico
submersão
Este processo é normalmente progressivo, mas nem sempre. Qualquer um dos dois estágios iniciais podem ser suprimidos completamente, dependendo de uma série de fatores.

Angústia
A palavra ANGÚSTIA talvez não seja a que melhor defina esta fase, mas é a que melhor se adapta à palavra original desta teoria: "distress".
Distress é stress ao dobro, e stress significa submeter alguém a grande esforço ou dificuldades ou causar receios ou estar perturbado. Para nós, a palavra que melhor se adapta, em nossa língua é, então, angústia. Há algumas vezes um longo período de aumento da angústia antes do começo real da emergência de afogamento. Estas situações podem envolver nadadores fracos ou cansados em água mais profunda que suas alturas, banhistas arrastados por uma corrente ou nadadores que apresentam cãibras ou trauma. Durante a ocorrência da angústia, nadadores são capazes de se manterem na água com técnicas de natação ou equipamentos flutuantes, mas têm dificuldades em alcançar o grau de segurança necessário. Eles podem ser capazes de gritar, acenar por socorro, ou mover-se em direção à ajuda de outros.

Alguns nadadores angustiados nem sequer sabem que estão em perigo e podem nadar contra uma corrente sem, num primeiro momento, perceber que não estão obtendo sucesso. A ocorrência da angústia pode durar alguns segundos ou pode prolongar-se por minutos ou até mesmo horas. À medida que a força do nadador esgota-se, a ocorrência da angústia progredirá ao pânico se a vítima não for resgatada ou não conseguir ficar em segurança. Guarda-Vidas alertas, numa praia devidamente guarnecida são normalmente capazes de intervir durante a fase da angústia do processo de afogamento. De fato, não é incomum algumas pessoas protestarem que elas não necessitam de ajuda porque elas ainda estavam para se sentir angustiadas, embora possa parecer claro para o Guarda-Vidas que elas estivessem em perigo óbvio.

Angústia dentro d'água é sério, mas esta fase do afogamento nem sempre ocorre. Se ocorrer, a rápida intervenção neste estágio pode assegurar que a vítima não sofra nenhum efeito do afogamento e possa assim continuar se divertindo o resto do dia. A USLA (United States Lifesaving Association) estima que 80% dos salvamentos em praias de arrebentação ocorram devido a correntes de retorno. Em tais casos, uma fase inicial de angústia é típica.

Pânico
O estágio do pânico do processo de afogamento pode se desenvolver do estágio da angústia, à medida em que a vítima perca suas forças, ou pode começar imediatamente em seguida à imersão da vítima na água. No estágio do pânico, a vítima é incapaz de manter adequadamente sua flutuabilidade devido à fadiga, completa falta falta de habilidade natatória, ou algum problema físico. Por exemplo, um nadador fraco que cai de um equipamento flutuante (câmara de ar, bóias, pranchas) em águas profundas pode imediatamente entrar no estágio do pânico. Há pouca evidência de qualquer braçada de sustentação efetiva. A cabeça e o rosto estão voltados para a água, com o queixo geralmente estendido. A vítima concentra toda sua energia em respirar, de forma que não há grito de socorro. O pânico irrompeu, tomou conta do banhista.

A vítima em pânico pode usar uma braçada ineficiente, parecida com o nado cachorro. Guarda-Vidas se referem à aparência das vítimas neste estágio para fora como "escalando para fora do buraco" ou "subindo a escada". O estágio do pânico raramente dura muito por causa de que as ações da vítima são amplamente ineficientes. Alguns estudos sugerem que dura tipicamente entre 10 e 60 segundos, para deste estágio poder progredir quase imediatamente à submersão, a menos que a vítima seja resgatada. Portanto, o Guarda-Vidas deve reagir muito rapidamente.

Submersão
Ao contrário da crença popular, a maioria dos afogamentos não resulta em uma pessoa boiando emborcada (flutuando em decúbito ventral). Apesar do aumento da flutuabilidade proporcionado pela água salgada, pessoas sem um equipamento flutuante que perdem sua habilidade para manter a flutuabilidade, rapidamente submergem e afundam até o fundo. Em água doce, que porporciona muito menos flutuabilidade que a água salgada, a submersão pode ocorrer extremamente rápido. A submersão pode não ser fatal se a vítima é resgatada a tempo, mas isto pode ser uma tarefa extremamente difícil. Diferentemente da água cristalina das piscinas, o mar aberto é frequentemente escuro e a visibilidade na água pode ser muito baixa ou até zero. As correntes e a ação da arrebentação podem deslocar o corpo para uma distância significativa do ponto da submersão inicial. Uma vez ocorrida a submersão, a chance do resgate ser bem sucedido declina rapidamente. Isto faz com que a intervenção na fase da angústia ou do pânico seja crucial.

Baseada na experiência de Guarda-Vidas profissionais em praias, a USLA acredita que há um intervalo de até dois minutos de maior possibilidade de um resgate de sucesso e ressuscitação de vítimas submersas. Após isto, as chances de resgate com êxito declina muito rapidamente. Em águas frias, salvamentos bem sucedidos têm sido documentados após uma hora de submersão ou mais, mas estes são casos extremamente raros.

Traduzido de: "The United States Lifesaving Association Manual of Open Water Lifesaving" - B.Chris Brewster (Editor) - 1995 - Pontice - Hall, Inc., pags 75 a 76.

Traduzido por: 1º Tenente PM SANDRO MAGOSSO, do 17º Grupamento de Bombeiros.



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