quarta-feira, dezembro 28, 2011

SERÁ PRECISO ACABAR COM O IPHAN PARA TERMOS SEGURANÇA?


Falta de estrutura na igreja da Boa Viagem põe fiéis em risco

Diana Gomes


Há infiltrações por todo o prédio histórico

Gildo Lima /Agência TARDE


Gildo Lima /Agência TARDE
Coro da igreja está interditado, pois corre risco de desabar
Coro da igreja está interditado, pois corre risco de desabar



Uma alvorada com queima de fogos nesta terça, 27, deu início à Festa do Senhor Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Boa Viagem. A alegria e a fé dos religiosos contrasta com a triste condição estrutural do imóvel histórico que sediará os festejos. A tradicional comemoração, que tem como ponto alto a procissão com a imagem do Senhor Bom Jesus dos Navegantes na galeota, será realizada com risco para os fiéis. A sede da Devoção do Senhor do Bom Jesus dos Navegantes, a garagem da galeota e a Igreja de Boa Viagem, todas localizadas no bairro homônimo, estão em péssimas condições e parte da estrutura corre até o risco de desabar.

Preocupada com a situação, a presidente da devoção, Acácia Andrade, entrou em contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há cinco meses para solicitar que o órgão autorizasse e acompanhasse uma obra de recuperação da sede da devoção e na garagem da galeota. “Nesse tempo venho lutando para que a festa não aconteça no risco que está nosso telhado. Nem me refiro à igreja, onde o caso é muito pior”, lamentou Acácia.

Na Igreja de Boa Viagem, a situação é de calamidade. A fachada com muitos azulejos quebrados assusta, mas nada é pior do que o interior. As pilastras, que sustentam o andar onde fica o coro, estão até hoje com as mesmas vigas de ferro da época que a igreja foi reaberta, em 2008.

Conforme contou o pároco da Nossa Senhora da Boa Viagem, Padre Adilson do Carmo, a igreja esteve fechada entre 2007 e 2008 porque corria o risco de desabar. Depois de uma avaliação, o Iphan determinou que as pilastras que ficam no interior da igreja recebessem vigas de ferro para dar maior sustentação ao andar de cima, onde fica o coro. No entanto, essa era uma medida que teria validade por um ano, ou seja, até 2009. Mas elas continuam as mesmas até hoje.

O pároco diz que o Iphan faz vistorias na igreja e mesmo assim nunca pediu que o local fosse interditado por conta das pilastras rachadas e pelo vencimento da medida de segurança provisória.

Procurado pela reportagem, o Iphan enviou respostas às denúncias por e-mail, informando que realiza vistorias anuais à igreja desde sua reabertura e que notificou diversas vezes a paróquia sobre “seu estado precário de conservação” e ainda que recomendou a adoção de providências imediatas para a solução dos problemas, mas que os proprietários do imóvel não tomaram providências. De acordo com o Iphan, em uma dessas visitas foi constatada a realização de serviços sem sua autorização.

O instituto finaliza dizendo que “é de responsabilidade da Defesa Civil do município de Salvador a avaliação da necessidade de interdição da igreja em função dos problemas apresentados”.

Em nota, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que não realizou nenhuma vistoria na Igreja Nossa Senhora da Boa Viajem em 2011. “O órgão não recebeu nenhuma solicitação por parte da administração do templo nem do Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan) para que a análise fosse realizada, o que é necessário por não se tratar de um imóvel público”, informou.

Burocracia - Como os três prédios são tombados, é necessária autorização e um assessoramento do Iphan para qualquer tipo de intervenção. Sem essa autorização, os devotos sustentam o telhado encaixando pedaços de madeira nos locais onde existem ripas podres e tomadas de cupim.

A presidente da devoção conta que tem limitado as atividades dentro da sede para evitar riscos. “Tentei fazer essa obra de recuperação antes da festa”, diz ela que apresentou dois ofícios protocolados pelo Iphan e que afirma ter feito inúmeros telefonemas posteriormente.

Todos os dias pela manhã é preciso remover o pó deixado pelos cupins nas cadeiras e mesas na sede da devoção.

Em resposta à denúncia da sede da devoção e da garagem da galeota, o Iphan informou que “já foi designado um técnico para efetuar vistoria no monumento, fornecendo todas as orientações necessárias à recuperação do imóvel”. O órgão não esclarece quando enviou um técnico e a presidente da devoção rebate a resposta.
“É mentira. Quero saber quem eles mandaram e quem recebeu o técnico. Eu fiz as solicitações, acho que no mínimo ele devia me procurar”, alega Acácia.

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